quinta-feira, 5 de maio de 2016

Dois Poemas e Uma Solidão

Canto a luz dourada do sol, os cheiros que a brisa traz.
Canto que o vento conta histórias.
E o vento me traz memórias...
Aquelas de grilos e trovoadas,
de chuvas e brincadeiras.
Vou ouvi-lo


Foi no reflexo de um rio,
ao longe,
que vi meu entardecer.
A água se movimentava,
mas a imagem da ponte
era estática.
Era o momento no
movimento.
Eu parado em fluxo.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

The Inclusion and The Failure of a Puzzle/A Inclusão e as Falhas do Quebra-cabeças



Sometimes the life is a puzzle and you are a piece that do not fit in it. 
Maybe you can try at all costs to fit on life... Certainly you can lost your color, your smell, your motion in this attempt. In true, perhaps you have lost your hands or your feet - symbolically. It's sad, I know, because you would be an incredible and beautiful piece of a puzzle in the way you are... really authentic! 
But the puzzle doesn't want you. You do not fit. And the guilt is not yours. 
Hey! We always despise important pieces in our lives, and the beauty of the unity is lost... sometimes forever. 
Here in the puzzle the pieces are not eternal. They have just instants... moments to fit on life. And we have to give time to this fit, perhaps helping them. Changing ourselves, changing the puzzle.


TRADUZINDO...

Às vezes, a vida é um quebra-cabeças e você é uma peça que não se encaixa. 
Talvez você possa tentar a todo o custo caber nela... Certamente nesta tentativa você pode perder sua cor, seu cheiro, seu movimento. Na verdade, talvez você tenha perdido as suas mãos ou seus pés - simbolicamente. É triste, eu sei, porque você seria uma peça incrível e bela, do jeito que você é... realmente autêntica! 
Mas o quebra-cabeças não quer você. Você não se encaixa. E a culpa não é sua. Ei! Nós sempre desprezamos peças importantes em nossas vidas, e a beleza da unidade é perdida... às vezes para sempre. 
Aqui no quebra-cabeça as peças não são eternas. Eles têm apenas instantes... momentos para caber na vida. E nós temos que dar tempo para esse ajuste, talvez ajudando-as. Mudando a nós mesmos, mudando o quebra-cabeças.


sábado, 13 de junho de 2015

As Ligações entre Saudade e Paciência

Um pensamento que me ocorreu essa tarde, enquanto caminhava até um compromisso, é que só podemos sentir saudade na ausência... na solidão. Ela é a constatação da falta. E ainda que remeta a isso, ela não anda sozinha, tem por parceira a paciência.

Que ousada! Chega até nós na solitude... e com companhia!

É quando começamos a SENTIR  saudade. É quando ela nos rodeia e a solidão é preenchida, com sons, imagens, música, cheiros... na verdade, ela se disfarça, se traveste... danada, a solidão, em frente à saudade (risos). Mas lembre, leitor, solidão é alguém que saudade ignora... por isso ela se transforma. Ainda, paciência não a deixa se aproximar de saudade de qualquer maneira.
Uma constatação final, e etimológica, sobre a ascendência dessas duas parceiras: saudade, talvez, advenha do vocábulo latino 'solitate', que significa solidão, isolamento. Paciência, que também é latina, vem do vocábulo 'patientia', mais especificamente de 'pati', que significa aguentar, sofrer, e que por sua vez vem de 'pathos' palavra utilizada pelos gregos para significar tanto sentimentos positivos, quanto negativos.

Assim, saudade é um SENTIMENTO intraduzível, que perdura na paciência, no que se espera ver outra vez, mesmo que de outra forma, amadurecido, envelhecido, amarelado, rasgado, renovado (por que não?)... em outro tempo, talvez em outro espaço. É quando a solidão não precisa se disfarçar, ela se vai... pois não tem mais serventia. Nesse momento, a sábia paciência nos diz que valeu a pena suportar, aguentar, persistir. Logo, calmamente, pega no braço de saudade e a chama... assim se vão, talvez para voltar outra vez.




Dedico esse texto a todos que esperam um reencontro....

Boa Noite!











quarta-feira, 18 de março de 2015

Livros Destruídos: repensando a biblioteca

Estava sentado na sala de estar, assistindo TV, de repente, pipocam tiros lá fora na rua,  à La faroeste mesmo... – caramba são tiros! – esbravejaram olhos arregalados para todos os lados que olhei, dentro de casa. Se tivesse um espelho, perceberia meus próprios olhos daquele jeito.

Por instinto e por fuga, corri para fora, pois o portão estava aberto... reboliço de pessoas correndo. Barulhos de vozes. Desespero e terror. “ Mataram uma pessoa!” – grita alguém. De repente, tudo se cala... Paira, então, no bairro (ou dentro de mim) um silêncio angustiante, todos se recolhem. Só podemos ouvir nossos corações desesperados reagirem a tal fato... TU-TUM... TU-TUM... TU-TUM... TU-TUM.

Suspiro, com testa suada e boca seca... e penso onde chegamos. Penso nas vezes que fomos acordados por tiros na esquina, ou que fomos paralisados diante de um quadro terrível: ao roubarem o carro da vizinha (dividido em difíceis 24 meses) às 19 horas, enquanto passeávamos com o bebê. Lamentável cena, de mau gosto até nos filmes de ação. 


Confesso que meu coração dói e meu estômago dá um nó gélido, quando me lembro de uma segurança, da biblioteca que frequento, saindo correndo, com uma pistola na mão e à frente dois assaltantes motorizados, carregando mais uma mochila de um pedestre trêmulo. Como é difícil, semanas depois, tentar entrar ali naquele estabelecimento público, rodar a maçaneta e não obter êxito... e no outro lado, aquela valente mulher, com olhinhos miúdos e boca apertada, escaneando meu rosto através do vidro e, por fim, relaxar e sorrir, ao abrir a porta.

A trilha sonora de nosso tempo é esta: pipocos, tiros, gritos, desmaios (suspiros). A decoração da cidade é: sangue, restos de massa encefálica e intestinos, corpos ao chão. A música principal? O silêncio de um cadáver cheio de sonhos.  E, certamente, não fazemos parte de uma festa, mas de uma algazarra triste de latrocidas, nos quatro cantos dessa cidade... 


Diante desse quadro, lembro-me muito da destruição de livros num fogaréu, como o fez um ditador com os livros proibidos para seu regime, mas o problema se alastrou nos últimos 80 anos, pois o horror não acontece mais no centro de uma praça; mas banalmente numa esquina, no trânsito, em frente de casa, quando chegamos ou saímos; até na porta da faculdade – Como falar de Progresso nessa selvageria? São ditadores para todo lado que se olhe, com armas em nossas cabeças, e, a partir de uma moto, fogo... “pa-pum” – quem ler entenda. 


Caro livro... ops, quero dizer,caro  leitor,  é de vida e de livros (mesmo) que quero falar... estranho né? Queria falar de pulsação, movimento, experiências boas, nessa noite chuvosa em que escrevo este texto; mas tenho que falar do lado violento da vida. Da destruição de livros. Coisa Horrenda! 

E por falar em vida, penso que ela seja um direito muito primitivo, que nos remeta aos tempos em que o Estado nem existia. Acho que esse direito já estava presente nos antigos grupos humanos diante da ameaça de predadores nas florestas de outrora. talvez esse "direito" seja filogenético: a fim de perpetuar a espécie.  . Diante disso, pude perceber que se tenho ameaçado o direito mais primitivo de minha vida (ela mesma), lesionado e descumprido definitivamente, imagine o que seria do direito de ter um iphone  ou um Camaro, ou até mesmo um Golzinho velho, uma motoca?... 



Lembro, com tudo isso em mente, que conversava um dia desses com Leonora, sobre o quanto as pessoas são especiais - mesmo em meio a essa violência - , falava que aprendo isso em cada contato que tenho, por mais rápido que seja, com elas. Costumo mesmo compará-las com livros, sabe leitor, e  não só porque gosto muito de livros, mas porque eles são mais que uma capa, são objetos especiais.

E por falar nela – na famigerada capa –, por trás de uma de “mau gosto”, velhinha, frágil e rasgada, nova e “bonita”, pode haver um grande livro – esse é um fato essencial para mim, um desafio. E perceba que os melhores livros não são, muitas vezes, os mais caros, os mais belos, os mais coloridos. Já encontrei um bom livro numa loja de conveniência, em meio a bolachas e hambúrgueres congelados! O adquiri por míseros 11 reais.

Definitivamente, para mim, pessoas são livros, estão nos lugares mais improváveis. Uma aventura. Independente de quem sejam ou do que fizeram têm algo a mostrar. Cada um de nós tem ou teve uma capa, por mais bela ou chocante que sejam.

E continuando a falar de capas de livros, lembro de uma aula de Teoria Literária que tive há alguns anos, em que o professor falava do “feedback  da literatura” (um esquema de reforçamento na produção literária), aquilo que agrada aos leitores, entre enredos e capas (isso mesmo capas!), nos livros de escritores famosos, fazendo-os modificar seus trabalhos totalmente.

Lembro que o professor afirmou que um livro pode vender mais, e até virar um Bestseller com grande ajuda das capas – daí a galera mudar a capa de seus livros a toda hora. Isso está acontecendo até com Bíblias, que agora tem capa até de oncinha! Mas, esse fato me deixou preocupado, porque percebi a sutileza da superficialidade das ações humanas, produções artísticas à parte. Valorizamos mais a capa do que o “conteúdo”? 

Confesso que esse clichê me incomodou muito nesses dias...

Lembro de estar numa livraria semana passada, pra variar, e ver uma capa de Sherlock Holmes, parecendo uma de um típico livro infanto-juvenil contemporâneo, mais colorido que o Bumba-meu-boi de São Luís, com umas formas geométricas estranhas e abstratas. E há quanto tempo Sherlock Holmes não  está por aí, né? É um velhinho travestido à força, fugindo do ostracismo, com sua velha lupa.  Mas ele deu umas retocadas externas, de estilo, para poder agradar nossos adolescentes superseletivos.


É engraçado como as capas definitivamente nos mobilizam, daí aquele livro de Holmes está à entrada da livraria, totalmente visível, intrusivamente visível. E por falar nisso,  lembro de uma pessoa que veio ao meu encontro, quando passei no vestibular. Estava eu num dos corredores da escola, parado... lá vem a pessoa, sorrizão no rosto, braços abertos à La Redentor – só faltou o Corcovado . De longe, comecei a sorrir, com modéstia – fazendo sinal de “ ah não foi nada...”. A pessoa chega, abraça, aperta, suspira e... e... diz: “que surpresa, hein?! Quem diria...”. Quase caio para trás – “POFF!!!” – não acredito no que acabo de ouvir! (sorrisos). Acho que eu não tinha a capa de um livro que passaria no vestibular!

Começo a estagiar num lugar muitos anos depois daquele episódio. É como se um livro de uma biblioteca  pública, surrado e amarelado, fosse deslocado para uma pomposa livraria, foi como me senti inicialmente .  Depois de alguns dias, em uma supervisão, minha supervisora vira para mim, meio constrangida e diz amigavelmente: “Igor, a mãe do Fulano tá meio insegura em querer teus serviços, porque ela me questionou se você é ‘inteligente’ mesmo... porque ela acha que você não é...” (estava há uma semana atendendo seu filho e tinha conversado somente umas duas vezes com ela – com a mãe). Olhando aqueles olhos tristes de minha supervisora, poderia dizer: “Talvez minha capa não me favoreça, livros inteligentes não a tem”.

Mas, leitor, o que me entristece e chateia é que aquelas duas pessoas não me leram, nem me folhearam... Foram logo dizendo, nas entrelinhas ou claramente, que eu parecia não servir. Que eu era inútil. Nós fazemos isso mesmo... desistimos fácil do outro, muitas vezes sutilmente.

Perdemos oportunidades, e nos perdemos uns dos outros, porque não desfrutamos dos livros que surgem diante de nós – dos livros que somos -, verdadeiras riquezas, descobertas... Estamos preocupados com Capas, e por isso perdemos almoços de domingos, conversas interessantes, segredos, um cineminha na sexta, uma viagem, uma corrida maravilhosa no calçadão ou no Park, com muitos sorrisos e alegrias. Nossa atuação diária não vai de uma prateleira a outra, é algo sem muito envolvimento, sem muita conversa, uma obrigação na verdade... “Já estou aqui na prateleira, alguém da livraria que te limpe e te ajeite!” – ouvimos o outro, ao abrir mão.

Mas, quando as aproveitamos nos modificamos! Como esquecer da pernambucana Luiselza, que estava lendo um livro em inglês que ensinava mandarim e me falou de como alguém se torna um tradutor juramentado pela Academia Americana de Tradutores? (isso no ponto e dentro de um ônibus!).  Ou de D. Assunção, numa esquina dessas de Teresina, senhorinha de cabelos brancos que iria fazer uma cirurgia para tirar “pedras” da vesícula e me falou dos anos 40-50? Caramba, como aprendi com esses dois livros, pude ler um pouco de suas páginas... e pude ser lido.

Uma vez estava num almoço com a família de Kennedy (meu melhor amigo), num de seus aniversários; e lembro de um livro em sua cama, de Direito Constitucional – escrito por Luís Roberto Barroso, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal. Recordo claramente que começamos a ler a introdução e ali encontrei uma frase que me impacta até hoje: “uma vida fracassada é uma perda para a humanidade”. Vez ou outra repito essa frase, provocando a paciência de meu melhor amigo desde aquele seu aniversário (sorrisos). 


Lembra dos tiros que ouvi hoje? Foram seis, que atravessaram o corpo de um jovem, que caiu inerte, de cara no chão. Havia buracos em sua cabeça, costas, braço, pernas... Ainda pouco, uma pessoa que o conhecia disse que seu rosto estava irreconhecível, de tanto sangue... livro manchado de vermelho, folhas despedaçadas, mero objeto de perícia criminal, muitas vezes mal feita. 

Enquanto ouvia isso, imaginava comigo mesmo, nessa solidão de carnaval violento, porque nosso ministro do STF falou que uma vida, uma única vida, seja a da vítima ou do homicida – ou de qualquer outras pessoas – , é um fracasso não somente para eles e suas famílias, mas também para mim, para o próprio ministro, para o prefeito, para vizinha, para o dono da padaria, para a presidente, para o mundo todo.

Penso, tomando a liberdade de interpretar Barroso, que todos fracassamos, porque temos falhado em lidar com o outro, como ele se mostra, como foi editado, escrito ou até mesmo reeditado – sejam indivíduos ou coletiviadades, seja um livro ou uma biblioteca. Temos tido insucesso, porque somos pseudoleitores, não lemos muito nossas relações na correria dos tempos! Nada mais interessante que uma bela capa numa Selfie, a ser postada numa rede social qualquer, para ser curtida por centenas de outros livros não lidos – nem nos lemos nem lemos os outros. Eis o máximo que fazemos... Estamos virando máquinas de curtidas, para lamento de nossos dedos, na era da superficialidade.



E não pensem que isso não tem impactos em políticas de saúde, políticas educacionais, políticas públicas, legislações... porque tem – falo do não ler o outro ou os outros.  


E assim, fingimos que nos lemos, enquanto estamos analisando o tipo de sapatos, calças que temos, cores de roupas – o que os outros pensam de nós ou dos nossos. Quando estamos incomodados porque o Próximo apresenta a mesma capa há anos. Coitado, ele não foi reeditado... não é rentável, segundo os moldes atuais - dizemos. Quem acharia interessante um livro dos anos 30? Ah, leitor, vamos cuidar dos nossos livros velhos, abandonados nos asilos – os esquecidos de hoje... amanhã pode ser você, principalmente nessa era de globalização, em que nos desatualizamos tão rapidamente.

Fingimos que nos lemos quando damos aulas, fomentamos educação, “promovemos” saúde, quando legislamos ou fazemos um belo discurso no parlamento, quando fingimos que não somos corruptos, que corrupção está somente em Brasília ou na Petrobras, e esquecemos que surrupiamos umas moedinhas a mais dada pela caixa do supermercado, ou quando tentamos furar uma filinha, de mansinho...

Uma vida fracassada é também o nosso fracasso porque não sabemos lidar com livros, os deixamos nos cantos, os abandonamos nas ruas, lagoas, lixeiros, caixas de papelão cheias de formigas – apesar de sermos também livros. Aqueles são livros abandonados e a serem escritos (não no sentido lockeano)... são tão preciosos, leitor, tão preciosos que é algo que foge ao entendimento pleno.

Mas me parece, nesses tempos de estouros e balas, que somente traficantes têm percebido a riqueza e têm garimpado essas jóias, ao aliciá-los e colocar fuzis em suas mãos – mãos que seguravam uma pipa ainda ontem. O Estado não lhes dá lápis e cadernos, dignidade... eles passam a escrever suas histórias (nossas histórias!) com armas e sangue, de assalto em assalto. É a infância com cheiro de pólvora, vestida de violência, longe de nossos olhinhos de classe média, de nossos narizinhos empinados, sensíveis somente a fast foods. Ei, existe um mundão entre o shopping e a Dysney! O que você despreza pode ser importante para outrem, para nosso bem ou mal. O problema é que essa joiazinha, anos depois, estará inerte, vazando sangue e cérebro pelo corpo – isso depois de matar muitos inocentes – num abandono social consumado vinte anos após a primeira lição de Teoria Geral do Tráfico. 

Ninguém nasce “bandido”! Nós formamos bandidos! Você nunca percebeu isso?! E porque não faz nada? Bandidagem não diz respeito a caráter – e muito menos a personalidade - diz respeito a relações Homem-Mundo. De como nos relacionamos com esse mundo, com os outros, com as práticas sócio-culturais e econômicas... a como nos relacionamos com as agências religiosas, educacionais, políticas... a como nos relacionamos conosco. Por que não?

Por isso o ministro falou isso! Estamos todos entrelaçados, desde que criamos sociedades fixas e culturas específicas – desde quando abandonamos o nomandismo, através do domínio de técnicas agrícolas e agropastoris, tornando-nos uma sociedade sedentária... ainda mais nessa contemporaneidade, quando nos conectamos na rede mundial de computadores. Estamos numa complexa rede, em que nossas atitudes, tudo o que somos, estão entrelaçadas a de outros. O grande problema, retirando uma metáfora do futebol, é que uma rede toda rasgada tem que ser trocada, para o jogo começar – mas o “espetáculo” começou de qualquer maneira, não foi D. Dilma Roussef? Não foi povo brasileiro? Ninguém viu que as redes estavam imprestáveis? Convenhamos... 


Nossas estantes não abarcam os livros que somos, que nos tornamos nesta segunda década de sáculo XXI... temos nós mesmos que trocar essas estantes. Repensar a biblioteca que é o Brasil, e mais: seus bibliotecários. É tempo de replanejar. A política tem que acompanhar as evoluções sociais, se isso não ocorre ela é imprestável, dissintônica, perturbadora. Há pouco, falei de música como o silêncio de um cadáver cheio de sonhos... essa dissintonia sonora  tem a ver com os fossos entre o “Distrito Federal” e o restante do Brasil – por exemplo a esquina violenta de minha rua. Tem a ver com a distância entre o palácio do Sr Governador e minha – nossa – realidade.

É uma desarmonia patente, não sei nem se isso é música... está mais para uma tentativa forçada, muito desafinada, por sinal. Mas é a trilha sonora que está por aí: gente sendo calada, enquanto “bombam” os discursos no Planalto ou na propaganda política partidária OBRIGATÓRIA.


Temos fracassado como humanidade, Barroso, porque não temos o olhar treinado para resgatar livros de lugares improváveis, quer seja uma loja de conveniência, uma lata de lixo, uma biblioteca velha e sem dono, ou uma penitenciária... Falamos muito e pensamos pouco, como disse Victor Hugo com desgosto: “Há mais bocas que falem que cabeças que pensem”. Esquecemos de aliar o poder do nosso discurso com a força de nossas ações. Que bobo, né? Mas é o que acontece.

Queria, por fim, deixar aqui um trecho filosófico da saudosa Estamira – mulher forte, e iletrada, segundo os padrões educacionais vigentes, mas não menos intelectual  e fantástica–  que sonhava no meio de um lixão em Duque de Caxias (RJ), livro interessantíssimo de se ler – que encontrei por acaso no livro espetacular do fotógrafo Marcos Prado Jardim Gramacho de 2004; veja como livros nos impactam nos lugares mais improváveis, leia um pouco de Estamira:


“ISSO AQUI É UM DEPÓSITO DOS RESTOS. ÀS VEZES É SÓ RESTO, E ÀS VEZES VEM DESCUIDO. QUEM REVELOU O HOMEM COMO ÚNICO CONDICIONAL ENSINOU ELE A CONSERVAR AS COISAS, E CONSERVAR AS COISAS É PROTEGER, LAVAR, LIMPAR E USAR MAIS O QUANTO PODE. VOCÊ TEM SUA CAMISA VOCÊ ESTÁ VESTIDO, VOCÊ ESTÁ SUADO, VOCÊ NÃO VAI TIRAR A SUA CAMISA E JOGAR FORA, VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO. QUEM REVELEOU O HOMEM COMO ÚNICO CONDICIONAL NÃO ENSINOU A TRAIR, NÃO ENSINOU HUMILHAR, NÃO ENSINOU TIRAR; ENSINOU AJUDAR. MISÉRIA NÃO, MAS REGRAS SIM. ECONOMIZAR AS COISAS É MARAVILHOSO, PORQUE QUEM ECONOMIZA TEM. ENTÃO AS PESSOAS TEM QUE PRESTAR ATENÇÃO NO QUE ELES USAM, NO QUE ELES TÊM, PORQUE FICAR SEM É MUITO RUIM. O TROCADILO FEZ NUMA TAL MANEIRA QUE, QUANTO MENOS AS PESSOAS TÊM, MAIS ELES MENOSPREZAM, MAIS ELES JOGAM FORA.”



Sem palavras, para essas lições impactantes...

Vamos nos ler mais, aprender mais uns com os outros, em leituras múltiplas. Vamos nos limpar, nos lavar. Vamos nos prender ao que temos de mais precioso, nossas experiências. Ensinemos, pois aos nossos filhos, que um livro tem muito mais que uma capa e que ele é importante, não por sua externalidade, cor, transparência, brilho, papel, etc. Mas por seu enredo único, e porque o temos. Capas são detalhes, às vezes elas nem contam! Não nos imobilizemos por conta de nossas capas. Quem as faz somos nós, bem como todo o livro, as estantes e a biblioteca – utopia à parte. Nos curtamos na plenitude dos nossos relacionamentos, divulgando aos 2000 “amigos”, ou não, pois uma vida fracassada é também o nosso fracasso; o contrário também é verdadeiro, pois conservar as coisas é proteger, quando as usamos (desfrutamos) o máximo que podemos – Barroso e Estamira muito me ensinam. 

Alguém quer me ler? Escrevo-me.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

O Ser Ridículo: um dilema

São dez horas da noite, em redor tudo em silêncio. Telefone no ouvido. Do outro lado, palavras gritadas. Repetidas três vezes.

- Marcos, você é ridículo! Ridículo! Ridículo! - De repente, o telefone fica mudo como o ambiente noturno... O que ficou? Constrangimento. Também uma mistura de melancolia e ressentimento. Essa é uma cena comum em muitos trabalhos de teledramaturgia, principalmente mexicana.

Caro leitor, começo esse texto com essa ilustração, porque nesses dias essa palavra (adjetivo) que usamos e ouvimos com alguma frequência pegou-me pelos pés e (por que não?) socou-me os ouvidos. Por que ela nos entristece, nos enfurece, nos constrange tanto? Até parece que essa palavra é uma das únicas a vir à tona em momentos críticos, quando estamos sendo fustigados ou incomodados: “Ridículo!”.

Entre tantas coisas, talvez esse adjetivo desperte em nós esses sentimentos, porque, quando usado, acorda risos e escárnios, nos concebendo como insignificantes. Ou seja, culturalmente ser chamado ridículo é submeter-se à zombaria, ao sarcasmo e ao menosprezo de outrem; é mesmo perceber que quem nos denomina dessa maneira não faz caso de nossas atitudes, pelo menos naquele momento; nos desprezando, talvez momentaneamente, por sermos ridículos.


Confesso, caríssimo leitor, que essa palavra despertou em mim curiosidade e vontade de entende-la; uma vez que condenamos tanto o “ser ridículo”. Acabei descobrindo ligação inseparável entre esse adjetivo e um substantivo que vez ou outra toma a forma de um verbo, o que todos já falam mesmo, o que pode ser verdade, não duvido: o amor é ridículo! “Amor” e “Ridículo” já têm uma relação longa, entre tapas e beijos perdura essa relação.

É como disse Stendhal sobre o amor-eros, que uma pessoa amada não percebe que o é, por conta do próprio amor. Que, quando está feliz no amor, tem o aspecto profundamente absorto (concentrado, extasiado), profundamente triste. Tem coisa mais confusa que esta? Realmente começamos até a enxergar alguma tolice nessas diversas atitudes a que chamamos genericamente de amor.

Chego mesmo a uma conclusão, conclusão essa que talvez filósofos, escritores, romancistas não se deteram muito: amar é ser ridículo. E aqui, leitor, começo a ressignificar o famigerado adjetivo de que tratamos aqui. E começo também a divagar sobre esse “amor ridículo”.

Eu sei... muita gente não acredita em amor, achando que ele é uma invenção tola e ridícula (vale a redundância!) de poetas desocupados. Conheço mesmo frases que dizem que quem não sabe dissimular não sabe amar, ou que amor é fugaz, pois um novo sempre expulsa um velho (frases de Stendhal também). De fato, muita gente está desacreditada do amor e, talvez a traição tenha muito contribuído para tal. Já vi também pessoas que tem medo de amar, seja o que ou quem for.

Talvez o amor hipócrita-religioso (não bíblico, que fique claro), tenha feito com que duvidemos dos discursos “melados” e inúteis ditos por aí e também de muitas declarações sinceras. Sabe, as misérias sociais nos mostram que em lugar de ‘amor ao próximo’ existe o ‘desprezo ao semelhante’. A corrupção política nos ensina que não há amor à nação, pelo povo. O tal “Oh Pátria amada, idolatrada, salve! Salve!” seria uma mentira cantada em cada clássico de futebol? E aquele coro lindo, que continua bradando depois que a musiquinha acaba?

Os infanticídios Brasil afora absurdamente nos mostram que nem ‘amor de pai’ resistiu. Acabou expurgado diante das violências, enquanto um cadáver de uma menina era jogado pela janela; ou quando um garotinho recebeu uma injeção letal (não sei se da madrasta ou do pai ou de ambos e mais alguém) por ser “insuportável”.

Diante disso (e muito mais que vai passar na retrospectiva desse ano na TV, com Sérgio Chapelin) não me espanto que coloquemos o amor em xeque, que o desprezemos, que chamemo-lo de tolo ou ridículo. O que dizer, quando estamos diante de nossas mães espancadas e de olhos roxos, ou mesmo caídas e inertes pela invasão violenta de onze tiros? Passamos a não acreditar no amor-casamento. Achamos que todo mundo trai, não é mesmo?

Mas leitor, detive-me num texto que sobrevive aos séculos, que foi escrito por um cara que surpreendeu o seu tempo e deu um novo olhar ao cristianismo, como disse meu amigo Kennedy. Alguns o conhecem como Paulo de Tarso, outros como São Paulo. Queria destacar essas palavras suas, que traduzi livremente da versão traduzida inglesa da Bíblia Sagrada conhecida como New International Version (NIV), que considero muito simples e clara, porém profunda. Segue o que descobri sobre o amor: 

“Se  falo nas línguas de homens e de anjos, mas não tenho amor, sou apenas um gongo ressoando ou um címbalo fazendo barulho. Se eu tenho o dom de profecia e posso entender todos os mistérios e todo o conhecimento, e se eu tenho uma fé que pode mover montanhas, mas não tenho amor, eu sou um nada. Se eu dou tudo o que possuo aos pobres e entrego meu corpo às chamas, mas não tenho amor, eu não ganho nada. O amor é paciente, o amor é amável [bondoso]. Ele não inveja, ele não se gaba, ele não é orgulhoso. Ele não é rude, ele não é egoísta, ele não fica facilmente enraivecido, ele mantem-se sem recordar de erros. O amor não sente prazer no mal, mas regozija-se com a verdade. Ele sempre protege, sempre confia, sempre persevera. O amor nunca falha. Mas onde há profecias, elas cessarão; onde há línguas, elas serão silenciadas; onde há conhecimento, ele deixará de existir. Pois nós conhecemos em parte [não conhecemos tudo] e profetizamos em parte [não profetizamos tudo]. Mas quando a perfeição vem, o imperfeito desaparece (...).  E agora esses três permanecem: a fé, a esperança e o amor. Mas o maior de todos é o amor.” (I Coríntios capítulo 13: 1-10 e 13).


Que texto! Suspiro com essas palavras. Concluo com tais letras que em verdade não temos amado e que damos o nome ‘amor’ a outras coisas que não amor. Paulo diz que ele poderia ser um grande poliglota, que falasse até línguas angelicais, mas que sem amor não passaria de um gongo barulhento. De fato, Paulo, existe muito barulho e pouco amor. E veja que o problema não é o barulho, mas o amor. Continua dizendo que poderia mesmo ser um profeta sensacional, ou um grande intelectual/cientista; poderia mesmo ter uma fé fantástica, a ponto de mover montanhas; Paulo poderia ser mesmo o mais caridoso de todos os homens, o mais altruísta; até mesmo chegar a se sacrificar por causas nobres; mas se não houvesse amor nisso tudo, ele não passaria de nada, tudo seria em vão.


Mas o que é esse amor de que tanto ele fala? Ele está abordando um amor muito especial, o amor de Deus por sua criação, pelo ser humano, um amor-modelo. Esse amor são atitudes daquele que mostra perseverança na continuação das metas e objetivos construídos em algum passado. São também as grandes alegrias, contentamento, a folia mesmo na presença de outrem, na sua chegada por exemplo. É a gentileza, a delicadeza, a ação nobre do dia-a-dia.  E por que não? É o amparo, o cuidado com os interesses do outro em momentos especiais e críticos, tomando sua defesa, preservando-o de danos, desenvolvendo-o e enriquecendo-o com vários benefícios; tendo uma segurança íntima, uma esperança firme de que as coisas podem ser melhores, de que o outro pode ser melhor; é ter um canal de comunicação aberto e sincero. É persistir, conservando-se firme e constante, pertinaz diante do inacreditável ou impossível, da rejeição ou rudeza.

Nossa, olhando tudo isso e o que o amor faz ou não faz, concluo eu mesmo que o amor é ridículo em todos os seus aspectos! Nesse mundo egoísta e corrido, intransigentemente imediatista,  como é feio amar! O amor revela, pois, não só nossas qualidades, mas nossas fraquezas e as regras populares dizem que não podemos fazer isso! Amar realmente enoja. Caramba, percebo mais: que é esquisito amar e falar de amor.

Nesses tempos de natal e cidade iluminada, queria compartilhar com vocês um dado: Deus é ridículo. Raciocine comigo (calma...): tem coisa mais doida do que ele, Deus, descer à terra, submeter-se às limitações de um corpo humano, de uma vida humana cheia de problemas, e viver entre nós? Percebemos tudo isso quando o evangelista  João diz que “(...) Deus amou tanto o mundo, que entregou seu único filho, quem acredita nele não perecerá, mas tem a vida eterna.” (João capítulo 3: 16 – NIV – tradução minha). Deus é ridículo, porque nos amou, tendo objetivos e metas para conosco, alegrando-se porque temos a oportunidade de não perecer, nos amparando de uma existência vazia. Por amor, Ele submeteu-se à zombaria, ao sarcasmo e ao desprezo.

Se não acredita no que digo, escute isso. Uma vez Deus enviou um anjo à cidade de Nazaré, na Galiléia, a uma virgem prometida em casamento a um certo carpinteiro. O anjo subitamente aproximou-se dela e disse que ela tinha sido favorecida grandemente. Assim a mocinha ficou imensamente perturbada com essas palavras, afinal de contas não é todo dia que se conversa com um anjo. Logo, o anjo lhe disse que não ficasse com medo, porque ela havia encontrado favor de Deus,  e que conceberia e daria a luz a um filho, mesmo sendo virgem e pelo poder do Espírito Santo, e daria a ele o nome de JESUS. Passado algum tempo, as palavras do anjo se cumpriram e numa simples vacaria encontravam-se Maria, José e o menino-Deus, que estava numa manjedoura. Que cena amorosamente ridícula, “heaven comes down”, como disse Daniel Bashta em sua bela canção Heaven. O céu desceu até nós naquele dia, os exércitos celestiais fazendo folia pelos céus de Belém, fazendo a glória do Senhor resplandecer sobre Pastores e seus rebanhos. Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. Paz na terra aos homens que estavam afastados e separados de Deus.




Numa manjedoura, Deus começava perseverantemente a nos reconciliar consigo mesmo. A buscar uma reaproximação, um recomeço. Mas o ponto mais crítico e mais ridículo do amor de Deus foi sua morte na cruz. Que escândalo, Deus estava morto por nossos pecados. Por seu sangue, por suas lágrimas e sua dor, ele foi ridicularizado; para nos defender do mal, da morte eterna também. Não precisa nem citar que ele venceu a morte e ressuscitou vitorioso por amor ao terceiro dia.

Falei de tudo isso, perseverante leitor, porque sei que amar é se expor ao ridículo; e Jesus nos ensinou isso desde a manjedoura até à cruz. Portanto, assumo publicamente que sou ridículo para meus familiares, amigos, colegas, futura esposa, futuros filhos, futuros clientes, futuros alunos, etc. Pois estou mesmo afim de viver o amor, viver I Coríntios 13. Ridiculamente amo e aprendo a amar. #souridiculo.



Feliz Natal!




quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Sou Insensato!

Sou insensato?
Igor Filipe de Sousa Oliveira
P
areço insensato, quando as verdades espirituais acerca de Deus não são suficientes... não são suficientes para mudar meu egoísmo, para me tirar da mesmice que a mentira me colocou, para me tirar dos vícios que me vislumbram. Sou insensato, quando me dirijo a outros deuses, depois de experimentar a presença ultrapoderosa de Deus... no Moriá, no Sinai, no deserto... no Calvário.
Sou insensato quando esqueço de quem é Deus e do que ele pode fazer. Quando ignoro o mundo espiritual e as hostes do mal nos lugares celestiais, falhando na batalha. Quando pareço... apenas pareço! Quando deixo de ser, alienando-me de mim mesmo, longe de Deus.
Sou insensato, quando pareço politicamente correto ou meramente um modelo religioso a se seguir, com o coração distante, a léguas, de Jesus. Quando não tenho a ÉTICA do Espírito Santo. Quando perco a sensibilidade de ouvir sussurros de Deus, numa indiferença tola e patética.
Sou incrivelmente insensato, quando sou tão irresponsável, a ponto de me tornar absoluto para mim mesmo. Quando ergo altares outros, para outras coisas... para os elogios, para a falsidade, para aparência  de ser “santinho”, para o sexo sem Deus, para o adultério, para a fama, para minha namorada/esposa, para meus filhos, para a ciência, para a religiosidade ritualística, mecânica e vazia. Quando “adoro” qualquer coisa que tome o lugar do Salvador... 
Quando sou um religioso sem Deus, sacerdote de orgias, quando me ofereço como sacrifício no altar do adultério, no culto da traição; quando deliberadamente machuco e firo a quem me ama... minha família. Quando desprezo quem precisa de ajuda, quando falseio o amor com hipocrisia... Quando coloco uma máscara bem bonita e que esconde a feiura do pecado. Sou insensato quando aponto dedos sujos de pecado ao meu irmão, em vez de ajuda-lo.
Sou insensato, quando destilo o veneno perigoso da fofoca e da falsidade... quando sou uma serpente disfarçado de devoto. Sou insensato quando imponho pesos, e machuco as costas daquele que é a imagem de Deus... afirmando tudo isso como “verdades” de Deus.  Amargo engano.
Enfim, sou insensato quando viro as costas para a cruz vazia, no Calvário; quando fujo do vento impetuoso de pentecostes ou quando me afasto daquela nuvem ou daquele fogo do deserto. Quando prefiro caminhar, às cegas, nas trevas... à parte de jesus.
“Ó gálatas INSENSATOS! Quem os enfeitiçou? Não foi diante dos seus olhos que Jesus Cristo foi crucificado?” (Bíblia Sagrada-Gálatas capítulo 3, versículo 1-NVI)
Apenas um recado do Pai... É tempo de santidade.    







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