Um pensamento que me ocorreu essa tarde, enquanto caminhava até um compromisso, é que só podemos sentir saudade na ausência... na solidão. Ela é a constatação da falta. E ainda que remeta a isso, ela não anda sozinha, tem por parceira a paciência.
Que ousada! Chega até nós na solitude... e com companhia!
É quando começamos a SENTIR saudade. É quando ela nos rodeia e a solidão é preenchida, com sons, imagens, música, cheiros... na verdade, ela se disfarça, se traveste... danada, a solidão, em frente à saudade (risos). Mas lembre, leitor, solidão é alguém que saudade ignora... por isso ela se transforma. Ainda, paciência não a deixa se aproximar de saudade de qualquer maneira.
Uma constatação final, e etimológica, sobre a ascendência dessas duas parceiras: saudade, talvez, advenha do vocábulo latino 'solitate', que significa solidão, isolamento. Paciência, que também é latina, vem do vocábulo 'patientia', mais especificamente de 'pati', que significa aguentar, sofrer, e que por sua vez vem de 'pathos' palavra utilizada pelos gregos para significar tanto sentimentos positivos, quanto negativos.
Assim, saudade é um SENTIMENTO intraduzível, que perdura na paciência, no que se espera ver outra vez, mesmo que de outra forma, amadurecido, envelhecido, amarelado, rasgado, renovado (por que não?)... em outro tempo, talvez em outro espaço. É quando a solidão não precisa se disfarçar, ela se vai... pois não tem mais serventia. Nesse momento, a sábia paciência nos diz que valeu a pena suportar, aguentar, persistir. Logo, calmamente, pega no braço de saudade e a chama... assim se vão, talvez para voltar outra vez.
Dedico esse texto a todos que esperam um reencontro....
Boa Noite!


Ótimo texto. E importante salientar que a saudade, como o próprio poeta relata, e a propria constatação da ausência. Entretanto, este sentimento latentete surge quando as nossas lembranças são boas, por isso só sentimos saudades daquilo que, de certa forma, nos fez bem ou nos faz, isso dentro de um padrão de normalidade. A saudade, como fruto da memória, e construída e reconstruída a partir das percepções quotidianas, dessa forma, talvez, o que vislumbramos seja apenas uma releitura fantasiosa de um passado, mas nem por isso ela deixa de ter sua importância. E instrumento indispensável àqueles que depositam sua vida em uma "lembrança/saudade" como a mãe que se mantém viva ao apego de uma foto, vídeo, carta, de seu filho falecido
ResponderExcluir, nesse caso a saudade torna-se palpável a todo instante que a mãe se depara com cada "saudade-concreta" ( foto, vídeo, carta,etc) ou seja, esse sentimento também e uma ferramenta de manutenção de vida. O que dizer de um sentimento tão nobre? Seria, pois, petulante da minha parte defini-la em tão parcas linhas?
Excelentes constatações! Me fez refletir mais uma vez. Grande abraço Marcones, saudades cara.
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