quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

O Ser Ridículo: um dilema

São dez horas da noite, em redor tudo em silêncio. Telefone no ouvido. Do outro lado, palavras gritadas. Repetidas três vezes.

- Marcos, você é ridículo! Ridículo! Ridículo! - De repente, o telefone fica mudo como o ambiente noturno... O que ficou? Constrangimento. Também uma mistura de melancolia e ressentimento. Essa é uma cena comum em muitos trabalhos de teledramaturgia, principalmente mexicana.

Caro leitor, começo esse texto com essa ilustração, porque nesses dias essa palavra (adjetivo) que usamos e ouvimos com alguma frequência pegou-me pelos pés e (por que não?) socou-me os ouvidos. Por que ela nos entristece, nos enfurece, nos constrange tanto? Até parece que essa palavra é uma das únicas a vir à tona em momentos críticos, quando estamos sendo fustigados ou incomodados: “Ridículo!”.

Entre tantas coisas, talvez esse adjetivo desperte em nós esses sentimentos, porque, quando usado, acorda risos e escárnios, nos concebendo como insignificantes. Ou seja, culturalmente ser chamado ridículo é submeter-se à zombaria, ao sarcasmo e ao menosprezo de outrem; é mesmo perceber que quem nos denomina dessa maneira não faz caso de nossas atitudes, pelo menos naquele momento; nos desprezando, talvez momentaneamente, por sermos ridículos.


Confesso, caríssimo leitor, que essa palavra despertou em mim curiosidade e vontade de entende-la; uma vez que condenamos tanto o “ser ridículo”. Acabei descobrindo ligação inseparável entre esse adjetivo e um substantivo que vez ou outra toma a forma de um verbo, o que todos já falam mesmo, o que pode ser verdade, não duvido: o amor é ridículo! “Amor” e “Ridículo” já têm uma relação longa, entre tapas e beijos perdura essa relação.

É como disse Stendhal sobre o amor-eros, que uma pessoa amada não percebe que o é, por conta do próprio amor. Que, quando está feliz no amor, tem o aspecto profundamente absorto (concentrado, extasiado), profundamente triste. Tem coisa mais confusa que esta? Realmente começamos até a enxergar alguma tolice nessas diversas atitudes a que chamamos genericamente de amor.

Chego mesmo a uma conclusão, conclusão essa que talvez filósofos, escritores, romancistas não se deteram muito: amar é ser ridículo. E aqui, leitor, começo a ressignificar o famigerado adjetivo de que tratamos aqui. E começo também a divagar sobre esse “amor ridículo”.

Eu sei... muita gente não acredita em amor, achando que ele é uma invenção tola e ridícula (vale a redundância!) de poetas desocupados. Conheço mesmo frases que dizem que quem não sabe dissimular não sabe amar, ou que amor é fugaz, pois um novo sempre expulsa um velho (frases de Stendhal também). De fato, muita gente está desacreditada do amor e, talvez a traição tenha muito contribuído para tal. Já vi também pessoas que tem medo de amar, seja o que ou quem for.

Talvez o amor hipócrita-religioso (não bíblico, que fique claro), tenha feito com que duvidemos dos discursos “melados” e inúteis ditos por aí e também de muitas declarações sinceras. Sabe, as misérias sociais nos mostram que em lugar de ‘amor ao próximo’ existe o ‘desprezo ao semelhante’. A corrupção política nos ensina que não há amor à nação, pelo povo. O tal “Oh Pátria amada, idolatrada, salve! Salve!” seria uma mentira cantada em cada clássico de futebol? E aquele coro lindo, que continua bradando depois que a musiquinha acaba?

Os infanticídios Brasil afora absurdamente nos mostram que nem ‘amor de pai’ resistiu. Acabou expurgado diante das violências, enquanto um cadáver de uma menina era jogado pela janela; ou quando um garotinho recebeu uma injeção letal (não sei se da madrasta ou do pai ou de ambos e mais alguém) por ser “insuportável”.

Diante disso (e muito mais que vai passar na retrospectiva desse ano na TV, com Sérgio Chapelin) não me espanto que coloquemos o amor em xeque, que o desprezemos, que chamemo-lo de tolo ou ridículo. O que dizer, quando estamos diante de nossas mães espancadas e de olhos roxos, ou mesmo caídas e inertes pela invasão violenta de onze tiros? Passamos a não acreditar no amor-casamento. Achamos que todo mundo trai, não é mesmo?

Mas leitor, detive-me num texto que sobrevive aos séculos, que foi escrito por um cara que surpreendeu o seu tempo e deu um novo olhar ao cristianismo, como disse meu amigo Kennedy. Alguns o conhecem como Paulo de Tarso, outros como São Paulo. Queria destacar essas palavras suas, que traduzi livremente da versão traduzida inglesa da Bíblia Sagrada conhecida como New International Version (NIV), que considero muito simples e clara, porém profunda. Segue o que descobri sobre o amor: 

“Se  falo nas línguas de homens e de anjos, mas não tenho amor, sou apenas um gongo ressoando ou um címbalo fazendo barulho. Se eu tenho o dom de profecia e posso entender todos os mistérios e todo o conhecimento, e se eu tenho uma fé que pode mover montanhas, mas não tenho amor, eu sou um nada. Se eu dou tudo o que possuo aos pobres e entrego meu corpo às chamas, mas não tenho amor, eu não ganho nada. O amor é paciente, o amor é amável [bondoso]. Ele não inveja, ele não se gaba, ele não é orgulhoso. Ele não é rude, ele não é egoísta, ele não fica facilmente enraivecido, ele mantem-se sem recordar de erros. O amor não sente prazer no mal, mas regozija-se com a verdade. Ele sempre protege, sempre confia, sempre persevera. O amor nunca falha. Mas onde há profecias, elas cessarão; onde há línguas, elas serão silenciadas; onde há conhecimento, ele deixará de existir. Pois nós conhecemos em parte [não conhecemos tudo] e profetizamos em parte [não profetizamos tudo]. Mas quando a perfeição vem, o imperfeito desaparece (...).  E agora esses três permanecem: a fé, a esperança e o amor. Mas o maior de todos é o amor.” (I Coríntios capítulo 13: 1-10 e 13).


Que texto! Suspiro com essas palavras. Concluo com tais letras que em verdade não temos amado e que damos o nome ‘amor’ a outras coisas que não amor. Paulo diz que ele poderia ser um grande poliglota, que falasse até línguas angelicais, mas que sem amor não passaria de um gongo barulhento. De fato, Paulo, existe muito barulho e pouco amor. E veja que o problema não é o barulho, mas o amor. Continua dizendo que poderia mesmo ser um profeta sensacional, ou um grande intelectual/cientista; poderia mesmo ter uma fé fantástica, a ponto de mover montanhas; Paulo poderia ser mesmo o mais caridoso de todos os homens, o mais altruísta; até mesmo chegar a se sacrificar por causas nobres; mas se não houvesse amor nisso tudo, ele não passaria de nada, tudo seria em vão.


Mas o que é esse amor de que tanto ele fala? Ele está abordando um amor muito especial, o amor de Deus por sua criação, pelo ser humano, um amor-modelo. Esse amor são atitudes daquele que mostra perseverança na continuação das metas e objetivos construídos em algum passado. São também as grandes alegrias, contentamento, a folia mesmo na presença de outrem, na sua chegada por exemplo. É a gentileza, a delicadeza, a ação nobre do dia-a-dia.  E por que não? É o amparo, o cuidado com os interesses do outro em momentos especiais e críticos, tomando sua defesa, preservando-o de danos, desenvolvendo-o e enriquecendo-o com vários benefícios; tendo uma segurança íntima, uma esperança firme de que as coisas podem ser melhores, de que o outro pode ser melhor; é ter um canal de comunicação aberto e sincero. É persistir, conservando-se firme e constante, pertinaz diante do inacreditável ou impossível, da rejeição ou rudeza.

Nossa, olhando tudo isso e o que o amor faz ou não faz, concluo eu mesmo que o amor é ridículo em todos os seus aspectos! Nesse mundo egoísta e corrido, intransigentemente imediatista,  como é feio amar! O amor revela, pois, não só nossas qualidades, mas nossas fraquezas e as regras populares dizem que não podemos fazer isso! Amar realmente enoja. Caramba, percebo mais: que é esquisito amar e falar de amor.

Nesses tempos de natal e cidade iluminada, queria compartilhar com vocês um dado: Deus é ridículo. Raciocine comigo (calma...): tem coisa mais doida do que ele, Deus, descer à terra, submeter-se às limitações de um corpo humano, de uma vida humana cheia de problemas, e viver entre nós? Percebemos tudo isso quando o evangelista  João diz que “(...) Deus amou tanto o mundo, que entregou seu único filho, quem acredita nele não perecerá, mas tem a vida eterna.” (João capítulo 3: 16 – NIV – tradução minha). Deus é ridículo, porque nos amou, tendo objetivos e metas para conosco, alegrando-se porque temos a oportunidade de não perecer, nos amparando de uma existência vazia. Por amor, Ele submeteu-se à zombaria, ao sarcasmo e ao desprezo.

Se não acredita no que digo, escute isso. Uma vez Deus enviou um anjo à cidade de Nazaré, na Galiléia, a uma virgem prometida em casamento a um certo carpinteiro. O anjo subitamente aproximou-se dela e disse que ela tinha sido favorecida grandemente. Assim a mocinha ficou imensamente perturbada com essas palavras, afinal de contas não é todo dia que se conversa com um anjo. Logo, o anjo lhe disse que não ficasse com medo, porque ela havia encontrado favor de Deus,  e que conceberia e daria a luz a um filho, mesmo sendo virgem e pelo poder do Espírito Santo, e daria a ele o nome de JESUS. Passado algum tempo, as palavras do anjo se cumpriram e numa simples vacaria encontravam-se Maria, José e o menino-Deus, que estava numa manjedoura. Que cena amorosamente ridícula, “heaven comes down”, como disse Daniel Bashta em sua bela canção Heaven. O céu desceu até nós naquele dia, os exércitos celestiais fazendo folia pelos céus de Belém, fazendo a glória do Senhor resplandecer sobre Pastores e seus rebanhos. Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. Paz na terra aos homens que estavam afastados e separados de Deus.




Numa manjedoura, Deus começava perseverantemente a nos reconciliar consigo mesmo. A buscar uma reaproximação, um recomeço. Mas o ponto mais crítico e mais ridículo do amor de Deus foi sua morte na cruz. Que escândalo, Deus estava morto por nossos pecados. Por seu sangue, por suas lágrimas e sua dor, ele foi ridicularizado; para nos defender do mal, da morte eterna também. Não precisa nem citar que ele venceu a morte e ressuscitou vitorioso por amor ao terceiro dia.

Falei de tudo isso, perseverante leitor, porque sei que amar é se expor ao ridículo; e Jesus nos ensinou isso desde a manjedoura até à cruz. Portanto, assumo publicamente que sou ridículo para meus familiares, amigos, colegas, futura esposa, futuros filhos, futuros clientes, futuros alunos, etc. Pois estou mesmo afim de viver o amor, viver I Coríntios 13. Ridiculamente amo e aprendo a amar. #souridiculo.



Feliz Natal!




quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Sou Insensato!

Sou insensato?
Igor Filipe de Sousa Oliveira
P
areço insensato, quando as verdades espirituais acerca de Deus não são suficientes... não são suficientes para mudar meu egoísmo, para me tirar da mesmice que a mentira me colocou, para me tirar dos vícios que me vislumbram. Sou insensato, quando me dirijo a outros deuses, depois de experimentar a presença ultrapoderosa de Deus... no Moriá, no Sinai, no deserto... no Calvário.
Sou insensato quando esqueço de quem é Deus e do que ele pode fazer. Quando ignoro o mundo espiritual e as hostes do mal nos lugares celestiais, falhando na batalha. Quando pareço... apenas pareço! Quando deixo de ser, alienando-me de mim mesmo, longe de Deus.
Sou insensato, quando pareço politicamente correto ou meramente um modelo religioso a se seguir, com o coração distante, a léguas, de Jesus. Quando não tenho a ÉTICA do Espírito Santo. Quando perco a sensibilidade de ouvir sussurros de Deus, numa indiferença tola e patética.
Sou incrivelmente insensato, quando sou tão irresponsável, a ponto de me tornar absoluto para mim mesmo. Quando ergo altares outros, para outras coisas... para os elogios, para a falsidade, para aparência  de ser “santinho”, para o sexo sem Deus, para o adultério, para a fama, para minha namorada/esposa, para meus filhos, para a ciência, para a religiosidade ritualística, mecânica e vazia. Quando “adoro” qualquer coisa que tome o lugar do Salvador... 
Quando sou um religioso sem Deus, sacerdote de orgias, quando me ofereço como sacrifício no altar do adultério, no culto da traição; quando deliberadamente machuco e firo a quem me ama... minha família. Quando desprezo quem precisa de ajuda, quando falseio o amor com hipocrisia... Quando coloco uma máscara bem bonita e que esconde a feiura do pecado. Sou insensato quando aponto dedos sujos de pecado ao meu irmão, em vez de ajuda-lo.
Sou insensato, quando destilo o veneno perigoso da fofoca e da falsidade... quando sou uma serpente disfarçado de devoto. Sou insensato quando imponho pesos, e machuco as costas daquele que é a imagem de Deus... afirmando tudo isso como “verdades” de Deus.  Amargo engano.
Enfim, sou insensato quando viro as costas para a cruz vazia, no Calvário; quando fujo do vento impetuoso de pentecostes ou quando me afasto daquela nuvem ou daquele fogo do deserto. Quando prefiro caminhar, às cegas, nas trevas... à parte de jesus.
“Ó gálatas INSENSATOS! Quem os enfeitiçou? Não foi diante dos seus olhos que Jesus Cristo foi crucificado?” (Bíblia Sagrada-Gálatas capítulo 3, versículo 1-NVI)
Apenas um recado do Pai... É tempo de santidade.    







O início de tudo...